sábado, 17 de outubro de 2009

Desafios, de Fernando Camuaso,Supera a Cegueira em favor da arte da fotografia

Desafio. Fernando Camuaso Segundo supera a cegueira em favor da arte da fotografia


CONSTRUTOR DE ESPANTO

ELISABETH DERETI

Especial para o Notícias do Dia

O fotógrafo posiciona a máquina na direção do mar, com a intenção de captar os suaves reflexos do sol no dia parcialmente nublado. Quando se espera que

ele, como qualquer pessoa ao tirar uma fotografia, coloque um olho no visor para escolher o ângulo e ajustar o foco, surpreendentemente ele encosta o aparelho...

na orelha.

“É assim que eu escuto quando o ajuste de foco automático fica pronto explica Fernando Camuaso Segundo. Deficiente visual desde os 2 anos, devido ao sarampo

que foi tratado inadequadamente, o angolano optou por um hobby que a princípio causa estranheza, a fotografia.

Camuaso Segundo justifica a escolha como sendo uma eficiente forma de comunicação. “Não tenho a pretensão de atingir um enquadramento perfeito e sim, de

causar impacto.” Ele já se dá por satisfeito ao provocar urna surpresa nas pessoas. “Toda reação vem do fato de uma mensagem haver sido transmitida.”

Aluno de jornalismo na Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), conta que, vaidoso, sempre gostou de ser fotografado. Seu interesse em fotografar,

porém, começou nas aulas de fotojornalismo. “A princípio a professora não sabia como me ajudar, então dei algumas sugestões e fizemos experiências que

funcionaram.” Ele já realizou três exposições e há tempos busca apoio para transformar uma série de fotos de Florianópolis em cartões-postais.

Sem frustrações

É difícil imaginar como alguém que não consegue ver o resultado de seu trabalho não fique frustrado, mas Fernando Camuaso Segundo não parece se incomodar

com isso. “Quando quero saber se a foto corresponde à minha expectativa, peço um olho emprestado”: diz, referindo-se ao fato de pedir o auxilio de pessoas

próximas. Muitas vezes ele não se satisfaz com apenas uma opinião e mostra seus trabalhos aos conhecidos até encontrar alguém que consiga descrever o que

vê, de forma compatível com a percepção do fotógrafo.

Escolhe aleatoriamente os objetos, paisagens e pessoas a serem fotografados. “Pessoas são mais fáceis de focalizar e enquadrar porque elas falam e eu acompanho

o som da voz”. No caso de urna paisagem, ele precisa de ajuda de alguém que descreva o ambiente para poder fazer a foto, além de muita imaginação. Para

isso, o olfato e a audição são fundamentais. “Eles são uma porta para que os ambientes me inspirem”.

Não é necessário despir-se dos conceitos tradicionais de arte e muito menos entender de fotografia para compreender e admirar o trabalho de Camuaso Segundo.
As imagens que ele mostra, em preto-e-branco, são muito bem definidas, muitas têm ângulos ousados e interessantes. A não ser que a informação seja dada
com antecedência, é impossível imaginar que tenham sido feitas por um cego.

“Quando quero saber se a foto corresponde à minha expectativa, peço um olho emprestado”.

O estudante de 27 anos chegou de Angola em 2001 por meio de um intercâmbio cultural e hoje não pretende mais voltar ao seu país. Ele já está integrado à
cultura local e a fotografia não é o seu único interesse. Faltando um ano para escrever sua monografia de conclusão do curso de jornalismo, Camuaso Segundo
deu início ao projeto de uma rádio on-line que deverá ter programação voltada para a promoção de novos talentos e para a divulgação da cultura africana,
além de notícias.

Também é massoterapeuta formado. Com sua deficiência visual, ele desenvolveu naturalmente uma sensibilidade tátil bem maior “Gosto de proporcionar bem-estar
às pessoas”, justifica.

Para agendamento de massagens: tel.: 9607-1692
Fonte: Jornal Notícias do Dia
Santa Catarina, Brasil

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